sábado, novembro 12, 2005
...Homenagem...AMIGO poeta...
HOMENAGEM
Em homenagem a um grande AMIGO…
numa das suas múltiplas facetas: O poeta!
Rui Martins dos Santos (o poeta)
numa das suas múltiplas facetas: O poeta!
Rui Martins dos Santos (o poeta)
O CRISTO DO SUPERMERCADO
é Natal! Tempo de consumo!
São chegados os dias de comprar!
Cristo vai nascer mais acompanhado
no presépio de Moisés & Companhia
erguido ao canto do supermercado:
entre aviões, comboios e metralhadoras,
soldados, blindados, foguetões,
bonecos de pilhas – pilhas de brinquedos!
Não terá frio: o ar está aquecido
e vestirá o seu confortável “baby-grow”.
Beberá leite puro, garantido
(tratado em multinacional),
por biberão esterilizado,
mantido à temperatura ideal.
Passar-lhe-ão em frente multidões:
uns sem vê-lo, outros só para olhá-lo,
alguns apreçando-o, para comprá-lo.
E tantos ficarão em casa, ainda este ano,
a sonhar: -Talvez para o ano,
se tudo correr bem.
Trinta moedas chegarão,
ou será mais?...
Com esta inflação!...
Não fazem falta as estrelas
para guiar os homens até ali…
Milhares de luzes acendem e apagam
em ritmo alucinante!
As letras de “néon” escrevem, multicores,
as mensagens do tempo de Natal
e de consumo:
“Conheça o amor em colchão Alfa!”…
“Tenha muita fé – ganhará, no Totobeta, uma fortuna!”…
“Não precisa de caridade –
compre a crédito, se Eureka é o seu banco!”…
“Quer gozar a alegria deste mundo?
Veja dois filmes de Charlot pelo preço de um!”…
“A pureza está na água de mesa Delta!”…
“Você será mais bela que a beleza
com creme de limpeza Miú!”…
Não falta, sequer o que é preciso para se ser senhor do mundo:
“Onde quer que vá, do Alaska à Antárctica,
a Agência Ró pode servi-lo!”…
Também não fazem falta os sinos,
a anunciar aos homens que ele virá…
Pobre bronze dos sinos de tão nobre catedral,
com menos de cem decibéis por badalada,
ao pé das colunas sonoras, gigantescas,
com que a electrónica atordoa os ares!...
Tocam agora a “Noite Silenciosa, Noite Branca”,
no meio daquele ruído infernal!
(Fá-lo-iam, ainda que a noite fosse quente e tropical!)
Em suas casas,
as pessoas ouvirão mais canções de paz,
porque as guerras pararam por um dia…
Um dia – o tempo necessário
para cumprir o mandamento: “Comprarás”!
É Natal
Há multidões nas ruas
que se acotovelam se chocam e empurram,
com milhares de embrulhos coloridos,
de coloridas fitas a enfeitá-los.
Como os embrulhos mudaram as pessoas!
Todas viraram comunicativas,
alegres sensíveis,
ao pensarem nas prendas que vão dar,
cheias de amor evidente, tilintante,
bem disposto e embalado
que inspira o Cristo do Supermercado!
Para festejar o Cristo dos presentes,
as famílias – todas as famílias –
vão imolar o seu cordeiro
na mesa-altar de cada templo-lar.
Para ser exacto não se trata de cordeiro:
será peru, para uns; para outros, simples frango;
para outros, ainda, resto de galinha
retirado da mesa dos demais.
Se for peru, porém a festa é de rigor:
recheado, regado com espumante,
será trinchado e mastigado
com o apetite de quem passou um ano
a devorar coisas banais e indiferentes
à espera do Natal!
… … …
Passou o Natal!
Foi tempo de consumo…
Os camiões municipais
levarão mais lixo das ruas e dos lares…
E já não haverá lugar para o menino
no presépio de Moisés & Companhia
erguido no canto do supermercado…
Ele vai ficar na caixa, em armazém,
mas vai voltar para o ano…
Quem sabe? Talvez antes,
num saldo, ao desbarato,
para os que ficaram em casa, desta vez,
sonhando no dinheiro para comprá-lo!...
é Natal! Tempo de consumo!
São chegados os dias de comprar!
Cristo vai nascer mais acompanhado
no presépio de Moisés & Companhia
erguido ao canto do supermercado:
entre aviões, comboios e metralhadoras,
soldados, blindados, foguetões,
bonecos de pilhas – pilhas de brinquedos!
Não terá frio: o ar está aquecido
e vestirá o seu confortável “baby-grow”.
Beberá leite puro, garantido
(tratado em multinacional),
por biberão esterilizado,
mantido à temperatura ideal.
Passar-lhe-ão em frente multidões:
uns sem vê-lo, outros só para olhá-lo,
alguns apreçando-o, para comprá-lo.
E tantos ficarão em casa, ainda este ano,
a sonhar: -Talvez para o ano,
se tudo correr bem.
Trinta moedas chegarão,
ou será mais?...
Com esta inflação!...
Não fazem falta as estrelas
para guiar os homens até ali…
Milhares de luzes acendem e apagam
em ritmo alucinante!
As letras de “néon” escrevem, multicores,
as mensagens do tempo de Natal
e de consumo:
“Conheça o amor em colchão Alfa!”…
“Tenha muita fé – ganhará, no Totobeta, uma fortuna!”…
“Não precisa de caridade –
compre a crédito, se Eureka é o seu banco!”…
“Quer gozar a alegria deste mundo?
Veja dois filmes de Charlot pelo preço de um!”…
“A pureza está na água de mesa Delta!”…
“Você será mais bela que a beleza
com creme de limpeza Miú!”…
Não falta, sequer o que é preciso para se ser senhor do mundo:
“Onde quer que vá, do Alaska à Antárctica,
a Agência Ró pode servi-lo!”…
Também não fazem falta os sinos,
a anunciar aos homens que ele virá…
Pobre bronze dos sinos de tão nobre catedral,
com menos de cem decibéis por badalada,
ao pé das colunas sonoras, gigantescas,
com que a electrónica atordoa os ares!...
Tocam agora a “Noite Silenciosa, Noite Branca”,
no meio daquele ruído infernal!
(Fá-lo-iam, ainda que a noite fosse quente e tropical!)
Em suas casas,
as pessoas ouvirão mais canções de paz,
porque as guerras pararam por um dia…
Um dia – o tempo necessário
para cumprir o mandamento: “Comprarás”!
É Natal
Há multidões nas ruas
que se acotovelam se chocam e empurram,
com milhares de embrulhos coloridos,
de coloridas fitas a enfeitá-los.
Como os embrulhos mudaram as pessoas!
Todas viraram comunicativas,
alegres sensíveis,
ao pensarem nas prendas que vão dar,
cheias de amor evidente, tilintante,
bem disposto e embalado
que inspira o Cristo do Supermercado!
Para festejar o Cristo dos presentes,
as famílias – todas as famílias –
vão imolar o seu cordeiro
na mesa-altar de cada templo-lar.
Para ser exacto não se trata de cordeiro:
será peru, para uns; para outros, simples frango;
para outros, ainda, resto de galinha
retirado da mesa dos demais.
Se for peru, porém a festa é de rigor:
recheado, regado com espumante,
será trinchado e mastigado
com o apetite de quem passou um ano
a devorar coisas banais e indiferentes
à espera do Natal!
… … …
Passou o Natal!
Foi tempo de consumo…
Os camiões municipais
levarão mais lixo das ruas e dos lares…
E já não haverá lugar para o menino
no presépio de Moisés & Companhia
erguido no canto do supermercado…
Ele vai ficar na caixa, em armazém,
mas vai voltar para o ano…
Quem sabe? Talvez antes,
num saldo, ao desbarato,
para os que ficaram em casa, desta vez,
sonhando no dinheiro para comprá-lo!...
Rui Martins dos Santos