quinta-feira, março 09, 2006
...experimentei...
precisava guardar
um decilitro de
gostas de orvalho…
a minha musa confessou-me
o segredo da purificação
da tristeza: numa malga
antiga, de preferência,
verter lágrimas salgadas
em grossos cachos…
em seguida misturar
as gotas de orvalho…
aplicar essa “água”
nos olhos da alma
devagar e com amor
no início irá passar o ardor
depois verás uma seda
cobrir-te, ou veludo,
não sei ao certo,
é macio, é sensual…
a estima por ti aumenta
o milagre ou cura é tal
que te sentes capaz
de atingir píncaros
de prazer, que depois
podes recolher em cabaz,
e te dura como em cântaro:
do antes ao depois…
Bedina
Março de 2006
segunda-feira, março 06, 2006
...sempre ESPERANÇA...
ferve por dentro
é fogo
arrefeço com gotas
do elixir que guardo
é água
mas não consigo
o calor não passa
é fogo
sobe por mim acima
é fogo
aspergido com água
retoma o seu normal
mas…volta a ferver
é fogo
não há mais água
arrefece
não consigo…preciso…
nem sei de quê…
se calhar de
continuar a ferver
para poder
perceber de onde vem
tal calor e porquê
sem isso e sem água
não se resolve…
o tempo de fervura
é insuportável
então nessa altura…
espera-se…
que a vida se encarrega
de entregar
para dar alento,
o necessário unguento.
Bedina Julho de 2005
domingo, março 05, 2006
...questionando...
revolta interior…
como fazer
como amainar
esta revolta
surda…
pesada
barulhenta
destruidora
do tudo e
do nada…
que me consome
me fomenta
a raiva
me torna incapaz
não me deixa viver
como, como fazer?
pensamentos
dos bons eu tenho
dar-me aos outros
sou capaz…
deixar-me ficar
numa apatia
de olhar é também
coisa que me vem,
mas como fazer?
o mundo
não me quer,
fui inventada para
outro planeta
onde não há mal
onde há respeito
amor, ternura,
comoção, bravura,
encanto, beleza,
onde a dádiva
vem em conjunto
com a natureza,
onde eu posso sorrir
ao ver uma planta
a nascer…
chorar comovida
com um gesto
de amor… não retribuído…
mas que o ousara ser…
mas como, como fazer?
Bedina
Julho de 2005
...qualificar...
há os para todos…
aos milhares
dizendo e desdizendo
o mesmo acto…
gosto dos extremos:
os de bem aventurança
e os de indignação…
os do “meio termo”
são apenas suavizantes
de qualquer diferendo,
nada me dizendo…
de qualidade são todos
de profundidade alguns
em excesso provocam
náuseas…
a sua ausência
é pobreza de linguagem
mas que eles definem
não há dúvidas..
é apenas aplicá-los
mesmo sem os apreciar
ou transforma-los em
advérbios
(em que os de modo
são o pior dos remédios)
não, não gosto deles,
enganosos, palavrosos,
e sem o conteúdo
que se espera deles!
não e não, então…
prefiro qualificar
por mim, pelo meu olhar,
meu sentir, meu tocar…
e depois meditar…
Bedina Dezembro de 2005