sábado, março 10, 2007
...sobre o DESEJADO...
FERNANDO PESSOA
QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
sexta-feira, março 09, 2007
...o chegar da Primavera...
de flor em flor…
apenas segundos
em cada uma segue
muito hirto e senhor
o beija-flor…
de cada bicada
recolhe alimento
mas apenas para
o momento
não sabe guardar
não sabe poupar…
dá trabalho tanto
movimento
não há volta a dar
estouvado,
meio desmiolado,
mas de nome lindo
debaixo da asa guardado!
Bedina
apenas segundos
em cada uma segue
muito hirto e senhor
o beija-flor…
de cada bicada
recolhe alimento
mas apenas para
o momento
não sabe guardar
não sabe poupar…
dá trabalho tanto
movimento
não há volta a dar
estouvado,
meio desmiolado,
mas de nome lindo
debaixo da asa guardado!
Bedina
2005
terça-feira, março 06, 2007
...SOBRE O DESEJADO...
...pequenos pormenores...
(......)
cercavam-no noite e dia mancebos bajoladores
das mais nobres famílias do reino mas sem
outra actuação que responder a seus desejos
por vezes extravagantes de tão real comando!
ataques de ira o consumiam à menor contrariedade
cruel e desapiedado a quem conselho lhe desse
no sentido da responsabilidade do reino que regia
como o contrair matrimónio e assegurar a continuidade
dando ao país, que sofria, a esperança de filho ter um dia
das mais nobres famílias do reino mas sem
outra actuação que responder a seus desejos
por vezes extravagantes de tão real comando!
ataques de ira o consumiam à menor contrariedade
cruel e desapiedado a quem conselho lhe desse
no sentido da responsabilidade do reino que regia
como o contrair matrimónio e assegurar a continuidade
dando ao país, que sofria, a esperança de filho ter um dia
(......)
Bedina
2006
segunda-feira, março 05, 2007
...SOBRE O DESEJADO...
...pequenos pormenores...
(.......)
no meio das suas muitas missas
resolveu el-rei mandar abrir as urnas
dos seus ídolos, consortes antigos
da primeira dinastia e da segunda
apenas D.João o II, e Príncipe perfeito
que o povo se apressou a chamar!
Em êxtase se ficou perante todos
cadáveres em putrefacção
sendo o do Perfeito a sua excepção
quedava-se el-rei tal como em vida
nem os sumptuosos trajes apodreceram
e o reizinho beijando-lhes as mãos
mostrando assim a sua fidelidade
aos bons reis, por desmerecimento
do bisavô, avô e pai, que desprezava
por terem apenas e só perdido praças
na África que, segundo a sua ideia
teria de a todo custo reconquistar
para igual património poder administrar!
resolveu el-rei mandar abrir as urnas
dos seus ídolos, consortes antigos
da primeira dinastia e da segunda
apenas D.João o II, e Príncipe perfeito
que o povo se apressou a chamar!
Em êxtase se ficou perante todos
cadáveres em putrefacção
sendo o do Perfeito a sua excepção
quedava-se el-rei tal como em vida
nem os sumptuosos trajes apodreceram
e o reizinho beijando-lhes as mãos
mostrando assim a sua fidelidade
aos bons reis, por desmerecimento
do bisavô, avô e pai, que desprezava
por terem apenas e só perdido praças
na África que, segundo a sua ideia
teria de a todo custo reconquistar
para igual património poder administrar!
Bedina
2006
...SOBRE O DESEJADO...
...pequenos pormenores...
dele se foi a dinastia, dele se ofereceu o trono
a real príncipe de Espanha que o tomou por direito
e nele se fixou por três gerações roubando a eito
o pobre Portugal desfeito, arruinado e tão maltratado!
e tristeza das tristezas: pobre, muito pobre povo que
sempre esperou a volta do tão ansiado “desejado”!
Bedina
a real príncipe de Espanha que o tomou por direito
e nele se fixou por três gerações roubando a eito
o pobre Portugal desfeito, arruinado e tão maltratado!
e tristeza das tristezas: pobre, muito pobre povo que
sempre esperou a volta do tão ansiado “desejado”!
Bedina
2006
...O DESEJADO...
triste fim duma dinastia!...
abençoado seria o ente
que desde o nascimento
tudo lhe aparece feito,
enfeitado, pronto para
o proteger em todo o lado….
antecipam-se-lhe os desejos
adivinham-se-lhe as vontades
como são claras as leituras
dos seus inúmeros apetites
satisfeitos no acto, e se delira,
são o que nunca deveriam ser
de mimado em desenfado
o pequeno ser nem se vai aperceber
e dar o devido cuidado
pois que de nada sentiu falta
nem sabe o que há para o satisfazer
resta-nos um menino mal amado
caprichoso com vontades de morder
para ao menos sentir o medo
e assim ir podendo crescer…
“a adultez é mais que o corpo”
quando este não a acompanha
tamanho é o seu desfasamento
grande euforia ou esmorecimento
de par com o mimo tem ainda este menino
o não pequeno fardo de ser rei de Portugal,
que conduziu ao seu maior erro e fatal,
infantil, perseverante no desejo de combater
sem emoções, frio, calculista, ambicioso
déspota pequeno ainda, cheio da razão
aquela que o Estado lhe dá por direito,
e não da outra que lhe viria do saber
só descansa quando se vai a exibir
em terras de barbárie, África seu destino…
como se jogo de desenfado se tratasse
num deserto tórrido sem nada para beber
jogando duma só vez o destino do seu país
o desmoronar de ilusões da nobreza,
que apesar de ambiciosa é prudente,
a segurança do reino deitada a perder…
nada nem ninguém deste combate saiu ilesa
arrasado ficou o reino e à mercê
de quem por direito o trono tomou
e para o fatal sangue afinal o empurrou!
e assim fora dum trago se deitou
o que com tantas mágoas
e tanto suor se alcançou
rei este que vindo do “perfeito”
(de nome e prudente saber) e
que de Portugal tanto dera a conhecer!
abençoado seria o ente
que desde o nascimento
tudo lhe aparece feito,
enfeitado, pronto para
o proteger em todo o lado….
antecipam-se-lhe os desejos
adivinham-se-lhe as vontades
como são claras as leituras
dos seus inúmeros apetites
satisfeitos no acto, e se delira,
são o que nunca deveriam ser
de mimado em desenfado
o pequeno ser nem se vai aperceber
e dar o devido cuidado
pois que de nada sentiu falta
nem sabe o que há para o satisfazer
resta-nos um menino mal amado
caprichoso com vontades de morder
para ao menos sentir o medo
e assim ir podendo crescer…
“a adultez é mais que o corpo”
quando este não a acompanha
tamanho é o seu desfasamento
grande euforia ou esmorecimento
de par com o mimo tem ainda este menino
o não pequeno fardo de ser rei de Portugal,
que conduziu ao seu maior erro e fatal,
infantil, perseverante no desejo de combater
sem emoções, frio, calculista, ambicioso
déspota pequeno ainda, cheio da razão
aquela que o Estado lhe dá por direito,
e não da outra que lhe viria do saber
só descansa quando se vai a exibir
em terras de barbárie, África seu destino…
como se jogo de desenfado se tratasse
num deserto tórrido sem nada para beber
jogando duma só vez o destino do seu país
o desmoronar de ilusões da nobreza,
que apesar de ambiciosa é prudente,
a segurança do reino deitada a perder…
nada nem ninguém deste combate saiu ilesa
arrasado ficou o reino e à mercê
de quem por direito o trono tomou
e para o fatal sangue afinal o empurrou!
e assim fora dum trago se deitou
o que com tantas mágoas
e tanto suor se alcançou
rei este que vindo do “perfeito”
(de nome e prudente saber) e
que de Portugal tanto dera a conhecer!
Bedina
2007