quinta-feira, novembro 10, 2005
...a música...o silêncio...
De "O Elogio do silêncio"
(de Marc de Smedt)
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"O que existe de maravilhoso na música de Mozart, é o facto de o silêncio que se segue ser ainda de Mozart"
(SACHA GUITRY)
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A música, ou a arte das Musas, pode ser definida como a arte de combinar os sons sobre uma tela de silêncio, a partir de regras, variáveis de acordo com o lugar e a época; como método para organizar um momento e para habitar um espaço com elementos sonoros; ou como um acto de saber criar ruídos harmoniosos entre eles.
Para Nietzsche, a música é "palavra de verdade"; para Freud, "texto a decifrar": para Marx, "espelho da realidade"; e para Jacques Attali, autor de um ensaio intitulado "Ruídos" representa "a banda sonora da sociedade", o seu arquétipo sonoro, qualquer que seja a sua forma.
Neste papel, tanto pode ser um instrumento de alerta como, na nossa época mediática, uma ferramenta do poder, já que pode:
- fazer esquecer: as misérias da condição humana;
- fazer acreditar: que o sucesso ou o amor estão ao nosso alcance;
- fazer silenciar: a necessidade de impertinência e de revolta;
O som, todos os sons, do silêncio saem e aí regressam.
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Orfeu continuará um símbolo do músico ideal e sobretudo como patrono dos mistérios iniciáticos, visto que ele se aprozima, graças à sua arte, do desconhecido e do inefável. E os que se chamaram a si próprios Órficos, em sua honra, que procuram eles no seu exemplo? Aquilo que se procura em toda a cosmogonia: "Qualquer coisa da ordem do divino, de visível e de oculto nos sinais que o mundo tem, e nas palavras do próprio HOMEM; o sentido de Deus, e o enigma dissimulado nesse sentido; o fundo das coisas, e o vazio que se aloja por baixo; "o coração inabalável da verdade que nos rodeia".
Em duas palavras; o mistério do silêncio.
Na tradição hindu o som enraíza neste mistério.
E o OM (AUM), a sílaba sagrada, som primordial que contém todos os outros sons, som que tece e contém o Universo, é definido como:
Som que não soa
Porque está´para lá do som.
O discípulo que o encontra
Está liberto da dúvida.
Ele é Som por excelência
O imperecível que se situa
Para lá de todas as categorias
Vogais ou consoantes, surdas ou sonoras,
Palatais ou guturais, labiaais ou nasais,
Semiconsoantes ou aspiradas;
E é por ele
Que o discípulo distingue o caminho
Pelo qual conduz o sopro
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Revelando a beleza de cada nota do interior, o músico, bardo do infinito, desperta os corações e esculpe o silêncio.
(9º trecho)