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sábado, dezembro 10, 2005

 

...continuando...MEDITAÇÃO...

De “O Elogio do Silêncio”
(de Marc de Smedt)
(13º trecho)



(…..)”E o olho, na sua sepultura, olhava Caim”, a postura é o túmulo, o olhar interior é o único espectador do nosso ser, atormentado pelos seus fantasmas e problemas.

Desdramatizemos. Não existe nem juiz, nem julgamento, neste confronto conosco próprios. Antes se produz uma decantação salutar. Porquê? Vamos perdendo os nossos medos à medida que os minutos vão passando nessa imobilidade activa, e as diversas dificuldades que assombram a nossa vida tomam as suas devidas proporções. No meio da agitação e do ruído, todo o problema se torna uma montanha. Na pausa do gesto e no silêncio, esse mesmo problema torna-se um elemento entre outros, e mesmo que nos seja prejudicial, mesmo que nos angustie, ela não nos invade, já não consegue entrar no campo da consciência de maneira tirânica; toda a força da postura, tensa como um arco, todo o poder da respiração, vento que leva os miasmas, ajudam a domar esse tigre selvagem, o espírito, e a aprisioná-lo, a discipliná-lo.

Então aparece a luz interior, Lua num quarto vazio, Sol numa praia deserta onde vêm morrer as vagas.

Então chega a verdadeira calma.

E liberta-se de nós uma nova energia, que permite enfrentar a realidade exterior com uma determinação corajosa, uma resolução tranquila. Em toda a serenidade, um olhar claro.

Encontra-se aqui uma verdadeira terapia psicossomática, uma prática de saúde mental. Exercício do silêncio e da renovação.
O que é a loucura, a não ser o espírito dilacerado pelo seu próprio ruído e a sua própria fúria?
Existe uma atitude do corpo e do espírito que pode lutar contra esta tendência mortífera, e ensinar-nos que o stress é cansaço zumbindo nos ouvidos, zumzum dilacerante, chinfrin desequilibrado que conduz a um desequilíbrio grave, enquanto que a descoberta do silêncio interior é paz, equilíbrio
reencontrado.

Um dia, pouco antes da sua morte, perguntei ao mestre zen Taisen Deshimaru: “What really about silence?” Ele ergueu os ombros e, com a sua voz grossa e severa, disse: “In silence cosmic order can penetrate”. Sim no silêncio que encontramos em nós próprios estabelecemos contacto com a energia que faz mover o cosmos e a nós próprios. Estamos então no olho do furacão, zona imóvel.

Nós somos o porto no meio da tempestade, nós somos um ponto fixo, em torno do qual se articula a roda do mundo.
(…….)


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